segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Final de Saúde Pública I

Chegou dezembro de 2013 com ciclo letivo já finalizado e matérias do segundo regularizadas \o/ era a hora de finalizar matérias, época de finais!
Graças ao meu enorme atraso com química biológica tinha que correr atrás e tirar Salud Pública 1 e Anatomia do primeiro ano ainda!
Comecei a me preparar para ambas, mas com anatomia ocorreram alguns problemas administrativos falta de entendimento entre professores e universidade com as datas... Acabou que eu parti pra Salud...
Comecei a me preparar.. Salud Pública é uma matéria bem leve... É uma matéria quadrimestral e não anual. Mesmo assim por vezes pode ser um pouco trabalhosa como foi para mim. Pra estudar eu me guiei pelo resumo da minha companheira de turma brasileira a Bruna. Que tinha ido bem no meio do ano(Ela havia rendido Salud já) e tinha a síntese de tudo. Todos os dias eu lia o resumo que abordava todos os temas. E nos últimos passei a me juntar com o pessoal e ficávamos a repetir e perguntar um ao outro as perguntas e temas, já que o exame é 100% oral.
Muitos amigos me falaram da importância de decorar todo o conteúdo e ter na ponta da língua pra evitar problemas, mas eu como sou teimoso decidi fazer do meu modo e explicar com minhas palavras, não me preocupava em decorar, não acho que vou aprender decorando, mas sim entendendo.
No dia do exame se apresentaram uns 120 alunos pra render e só uma professora tomou de todos, a titular da catedra, Dra. Beltramo. Como era só ela que tomava de três em três... O exame começou oficialmente as 15h mas eu só fui chamado lá pras 19h, fazia um calor insuportável no dia como de costume pra La Rioja em dezembro. Desci pelo anfiteatro e sentei em uma ponta, um amigo meu em outra e uma menina no meio. Logo de inicio uma outra professora que acompanhava a Dra. Beltramo na avaliação me perguntou oque era Atenção primaria à saúde. Meu estado de nervos era tal que eu comecei a explicar sobre Prevenção Primária à Saúde. Ao começar a falar sobre promoção e prevenção, friamente a professora me cortou e jogou a pergunta pra menina ao meu lado, que explicou corretamente oque era APS. Era uma rodada de perguntas pra cada um e na falha de um passava-se a outro. Então a Dra. Beltramo virou pra mim e me perguntou quais eram os componentes programáticos de APS. Respondi uns 3 a muito custo, era coisa de memorização, meu fraco... No terceiro componente ela passou adiante pra meu amigo. Na outra rodada de perguntas ela me pediu pra enunciar os componentes estratégicos de APS. Novamente... memorização. Fiquei uns 5 minutos buscando na minha cabeça coisas idiotas como.
1-Atenção total de saúde.
2-articulação de inter-setores.
3- Participação social. Enfim coisas vagas que não sabia dizer em ordem.
Depois de 5 minutos engasgando me rendi e disse. 'Não sei'. A Dra. Beltramo não gostou nada da minha sinceridade e franqueza de entregar os pontos. E a profe acompanhante disse que se eu não soubesse não poderia aprovar. Na mesma hora eu entreguei os pontos e levantei da mesa central, porém não sai, sentei atrás e continuei acompanhando o exame. Aos trancos e barrancos vi meus companheiros com uma forte sensação de aprovação. Quando eles terminaram eu voltei pra mesa central e disse que não estava ali para memorizar coisas e pedi conselhos pra estudar de algo mais além da apostila de Saúde Pública 1. Queria aprender entendendo e não memorizando como sentia que todos o faziam. A professora foi ríspida e mandou eu ir até a biblioteca. Eu insisti querendo algo mais interativo, algum vídeo, documentário, exemplo de algo. Ela desceu mais o tom e disse que aquilo ali não era escolinha com videozinhos. Então eu disse na mesa que lia as coisas que ela me pediu como as listas a decorar de APS e disse. "As informações ingressam por um olho e saem pelo outro, porque eu não memorizo". Todos na mesa, a professora ajudante e os alunos ajudantes riram do meu comentário. A Profe. Beltramo me respondeu seco. "Então leia 10 vezes..." Nas entrelinhas... "Memorize seu idiota". Sai desaprovado e triste, ali ficou claro, outro final que vou ter que memorizar, e isso era um saco.
Voltei pro Brasil sem finalizar nada. Mas... entrei no espirito das férias! Fui pra praia no litoral sul paulista, surfava todos os dias, pra quem vive na montanha no interiorzão sem mar... é horrível, é uma das coisas que mais sinto falta vivendo na Argentina... do mar. Então minha vida se converteu a acordar cedo, olhar o mar, surfar, voltar pra casa pouco antes do meio dia. Comer e estudar de tarde sem pressão e tranquilo Saúde Pública 1 e retornar la pelas 16h pra surfar novamente até as 20h! Comer e dormir logo cedo. E assim por dias.
Já de volta na Argentina há alguns dias comecei a estudar intensamente Saúde Pública, era como rezar, repetia as coisas por horas, gravei no celular todo o conteúdo e ficava a cozinhar, saia pra resolver as coisas com o fone no ouvido e repetindo mentalmente, cheguei ao ponto de dormir e deixar minhas gravações tocando a noite toda na expectativa do meu subconsciente absorver aquele conteúdo chato, pescava temas recorrentes na internet e assim fui render logo na primeira mesa de fevereiro. No dia... chegando lá... Haviam somente 20 alunos e mais de 7 professoras para nos tomar, uma maravilha, comparando com dezembro pois são poucos os alunos que se animam a interromper suas férias tão cedo pra voltar de suas províncias ou no meu caso país e ficar à estudar exclusivamente para finais.
Entrei eu e uma menina e nos sentamos frente a uma professora que eu até então nunca havia visto na minha vida. Era branca porem com a pele azeitonada como a de um europeu do mediterrâneo, de meia idade, cabelos lisos a altura dos ombros e castanhos, voz calma e olhar analítico e severo. Logo de inicio não conseguia controlar meu nervosismo em terminar logo com aquele exame e deixar essa matéria pra trás. Ao me ver tenso ela me questionou se estava tudo bem comigo, sem falar eu tomei suas mãos com as minhas e levei ao meu peito, meu coração palpitava parecia que ia explodir de nervosismo, rs. Frente a isso ela entendeu e perguntou se era a primeira vez que eu rendia, e eu disse não que era a segunda. Ao ouvir isso ela me olhou serio, como se aquilo fosse muito sério. E começou a ver minha livreta universitária com toda minha história acadêmica até então. Ao ver a quantidade de  notas 2 e reprovados todos de química ela exclamou e perguntou como que eu ainda fazia medicina com tantos desaprovados! Eu olhei rapidamente pra trás, dentro de mim, minha trajetória e respondi, "mas não abandono mesmo!" E expliquei que a professora de química tinha brigado comigo e blá blá blá. (Quem lê o blog manja dessa peleia).
Então expliquei que tinha reprovado por causa de APS. E ai ela começou me perguntando justamente por APS, a primeira pergunta que me fizeram no exame final anterior. Eu dei a definição memorizada. E ela começou a me questionar oque eram as coisas que eu estava falando, como que desmembrando o conceito. E eu comecei a explicar tudo, e de toda explicação minha ela ia tirando mais perguntas como que usando minhas próprias respostas contra mim. Por exemplo, um dos objetivos programáticos de Aps é 'Eliminar Patologias Prevalentes', pois a professora me parava fazia e perguntava, Oque é uma patologia prevalente? (...) Agora dê exemplos de patologias prevalentes presentes em La Rioja. (...) Dengue, e qual é o agente etiológico dessa doença e que tipo de ação se deve fazer comunitariamente pra se prevenir?(...) e assim ia.,  Logo percebi o jogo perigoso que estava metido e controlei bem as palavras, e parte de mim ficou feliz... Aquela professora não aceitava memorização e desmembrava as respostas em conceitos, ela queria a resposta de quem entendesse e não de quem memorizasse. Era das minhas! Respondi corretamente e consegui sair das perguntas complicadas dela, ela passou para a menina que também sabia tudo memorizado mas logo se perdeu, pois parecia que não tinha entendido os conceitos da matéria. Eu quis responder por ela, mas a professora me interrompeu e disse pra não interferir. Fiquei quietinho e já ensaiava as respostas na minha mente caso ela jogasse as bombas pra mim responder. Na segunda rodada ela me perguntou sobre os níveis de prevenção. E eu dei uma breve explicada sobre a história natural da doença Leavel e Clark, que era uma ferramenta pra auxiliar a medicina, dos níveis pré patogênico e patogênico. E comecei indo pela prevenção primaria, tudo ia a mil maravilhas até ela me interromper e querer a definição exata, eu expliquei tudo pra ela de 1°aria de frente pra trás e ao revés, mas não entenda que definição exata ela queria, e ia falando e falando e saturando a paciência da professora que começou a criticar a mim e a menina. Até que eu soltei. "Promoção e prevenção". Era isso essa definição exata que ela queria... ok seguimos em frente. Eu ia explicando e ela ia me parando e pedindo pra mim aprofundar no tema, dar exemplos de realidades preventivas vividas na província e deixava eu seguir em frente.
História Natural da Doença e Níveis de Prevenção

 Virando para a menina, ela perguntou sobre epidemiologia, a menina respondeu certíssimo, memorizada a resposta, impecável eu diria. Então a professora começou a desfiar o tema ia pedindo explicações e trazia a tona pra nossa realidade vivida na província, pedia exemplos de tudo e correlacionava matéria&realidade, e a menina não sabia responder, exceto os conceitos memorizados. A menina parou completamente no método epidemiológico. Depois de 10 minutos parada a professora jogou a bomba pra mim, respondi bem, então expliquei a diferença de epidemiologia clínica e de terreno. Travei quando a professora me pediu pra descrever o método clínico, eu não tinha estudado isso pra lembrar ali... A essa altura todos já tinham ido embora e já íamos pra mais de 40 minutos de exame. Eu não sabia explicar e a professora queria a definição da apostila da catedra, os nove itens... Ferrou. Ela queria desaprovar nós dois! Então ela deu uma ultima chance pra menina e voltou pra APS. A menina respondeu de memoria os componentes estratégicos. Então a professora pediu pra desenvolver pelo menos um componente e explicar bem. Nenhuma explicação convenceu ela e ela reprovou a menina alegando que ela não sabia o básico. Veio a bomba pra mim, desenvolver um tema dos componentes. Eu escolhi 'Articulação Intersetorial' Falei da importância do governo como um todo, que por exemplo o ministério da saúde dependia do da economia para o repasse de dinheiro que era importante a articulação inter setores e blá blá blá. Então a professora me catapultou dai e me jogou em um centro de saúde, pediu pra eu explicar o tema de articulação inter setorial em uma unidade básica de saúde, um postinho. Me virei nos 30 e expliquei que pra fazer o posto se levava em conta fatores e setores, demográficos, geográficos, técnico administrativos e sanitários, da importância do centro de saúde pra comunidade e sua inter relação e blá blá blá. Então a professora me parou e disse, "antes você mencionou educação, me explica oque a educação tem a ver ai no meio...". Eu desmenti ela, em nenhum momento falei de educação, ela disse que sim e eu disse que não, tinha certeza, sabia bem oque eu estava falando. A professora agarrou tudo e disse que não dava mais que não sabíamos das coisas, se irritou comigo! Eu segurei no pulso dela de pé e pedi pra ela se sentar novamente, peguei um papel e desenhei pra ela explicando tudo e inclusive inventando qualquer coisa que viesse sobre educação pra satisfaze-la e não me ferrar. Ela parou fez eu re-explicar todos os fatores e articulações que mencionei antes e se deu por satisfeita. Se levantou novamente com cara feia. Uma hora de exame havia passado todas as outras professoras nos esperavam já. Antes dela ir eu pedi desculpas por qualquer inconveniente que podia ter gerado e expliquei que estava em um estado de nervos e sob forte pressão gerada por mim mesmo e por toda a situação ali. Ela compreendeu e se foi. Eu sai da sala e em seguida o ajudante me chamou e entregou minha libreta. Lá estava. Um quatro '4'. a nota minima pra aprovar, que representa 60%. Ok né. Estava feliz, Menos uma! Ufa.

5 comentários:

  1. Lendo o seu texto observei que, apesar da metodologia (concordemos ou não), parece ser sério e bem exigente. Li outros blogs sobre medicina na Argentina e fiquei bastante preocupada com o que li, dizia não haver aula e nem professores preparados, etc. O que vc está achando do curso? É bom? Sente que é uma boa formação? Recomendaria a outros brasileiros?

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    1. Oi Queila, Eu acho, falando da Unlar e de La Rioja, considero o curso bom. E pras outras perguntas afirmo todas com um sim.
      Eu sempre repito o seguinte pra você e qualquer um que se interesse a respeito, deve-se pesquisar, procurar bem a fundo de todas as fontes possíveis, consultar diversos pontos de vista de diferentes pessoas e em última estancia visitar pessoalmente a cidade e instituição que lhe interessam, respirar, pisar, sentir... Pra enfim tirarem suas próprias conclusões.

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  2. Oi Carlos, primeiramente queria dar lhe os parabéns pelo excelente blog! Queria também saber, se possível é claro, quanto em media está o custo de vida, em pesos, na cidade de LA Rioja hoje, março de 2014?

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  3. Oi Alenilton, estou gastando o mesmo valor que digitei no corpo da postagem "Recado a quem pensa em vir estudar na Argentina." Embora a inflação tenha aumentado o preço das coisas na Argentina, o Real se valorizou na mesma medida. Portanto não houve mudanças nos meus gastos.
    Saudações!

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