segunda-feira, 19 de março de 2018

A Importância de Aprender Idiomas na Universidade. (Como ganhei uma bolsa de estudos na França.)

Realmente quando me inscrevi no curso de francês da universidade lá em meados do ano 2013 jamais imaginava que no lapso de 4 anos ganharia uma bolsa para fazer especialização médica na França.
Lembram que escrevi aqui no blog as ideias que tinha sobre o futuro e porque decidi começar a aprender francês, aqui vos deixo neste link minhas ideias de 2013. Em síntese quis aprender esse idioma porque queria (e ainda quero) exercer medicina na Africa, continente que tem muitos países francofonos.
Semana de las Naciones 2014 UNLaR
Na escuela superior de lenguas da Universidad Nacional de La Rioja pude avançar até o nível de francês B1 com ajuda fundamental da professora Cristina Pereyra. Quem sempre acompanhou e depois virou diretora da Escuela Superior de Lenguas (ESL) e deu maior projeção a vários projetos. Por exemplo todos os anos todos os cursos de idiomas se unem em uma semana (das nações) e tem vários eventos de cada um por separado e no ultimo dia tem uma grande festa com degustação gratuita de comidas apresentações de dança e musica tipicas de cada país. Alem de que a cada ano vão abrindo novos cursos de idiomas. Como latim, quéchua, árabe, fora os tradicionais europeus.
Nunca me esqueço que quando fazia cursinho no Objetivo na capital paulista o professor de geografia Moacyr Nogueira Jr. Dizia. "Quando vocês entrarem na faculdade se espera que vocês tenham amplo domínio da língua portuguesa e inglesa, na universidade junto ao curso devem já aprender o terceiro idioma, isso vai fazer uma diferença muito grande quando estiverem terminando a universidade."
E realmente ele tinha razão. Hoje falo fluentemente Português, Inglês, Espanhol, depois de quase 4 anos tenho consolidado o nível intermediário de Francês e o básico de Alemão que estudei por dois anos antes de migrar para a Argentina.
Não é só dedicação, aprender um novo idioma também é um investimento em você mesmo. Muitas vezes não é barato, mas a UNLaR se supera nisso, com mensalidades que nunca iam alem dos 100 reais por mês e hoje em 2018 se mantem no cambio em torno de 60 reais (AR$400) só não aprende idioma quem não quer!
O autor deste blog apresentando música francesa na semana de las naciones de 2016 da UNLaR
Mas então como diabos eu consegui uma bolsa?
Ocorreu ao acaso. No ano de 2017 quando já não cursava mais francês pois tinha atingido o nível máximo no curso que a universidade oferecia eu sai um dia para fazer compras em um hipermercado no centro de La Rioja e lá me deparei com uma senhora que buscava algum chá com muita atenção na seção de infusões, passei por ela e pensei será que ela precisa de ajuda? Mas deixei pra lá poucos minutos depois ao voltar pelo corredor lá estava ela procurando todavia, então decidi oferecer ajuda. Ela me disse que buscava chá de boldo. Por ser alto podia verificar todas as caixinhas de chá das seções mais altas e logo localizei oque ela buscava. Ela agradeceu e com poucas palavras detectou que eu não era de La Rioja, lhe expliquei que era brasileiro do sudeste do Brasil, São Paulo. Já ela disse que era riojana porem vivia há mais de 30 anos na França e lá não existe chá de boldo razão pela qual ela queria levar consigo. Surpreso imediatamente perguntei ''-" -Ahh Parlez vous Français?" "-Oui, trés bien!" E degringolamos a falar francês no meio do mercado.
Naquele mesmo dia a Dona Herminia que estava  visitando sua mãe em La Rioja me convidou para um chá, que estive de acordo de ir depois das aulas no hospital escola, conversamos por horas ela se encantou com meu nível de francês, explicou que o irmão dela era médico em La Rioja. Dr. Carrara formado na Universidad Nacional de Córdoba e tinha feito especialização em otorrinolaringologia na cidade francesa que vivia, Nantes, com ajuda dela e me oferecia fazer o mesmo que fez pelo seu irmão.
Eu fiquei com um pouco de receio mas ela insistiu que teria melhor educação na França e valorização por ser em euros. Eu lhe expliquei que por acaso ao fim de 2017 iria para Europa passar o fim de ano com familiares em Portugal e daria um jeito de visitar ela em Nantes e ver de perto estando lá e analisaria com cuidado, mas que estava felicíssimo e agradecido pela oferta, jamais imaginei que isso iria cair do céu para mim dessa forma. E assim foi. No mês de janeiro de 2018 lá estava eu em Nantes, Atlantique, Pays de la Loire, France.
Eu espero editar o vídeo no youtube e colocar o link aqui no futuro mostrando mais sobre a França, só estou adiantando esse post porque tenho pressa em escrever ele e abrir os olhos dos brasileiros que estudam na unlar ou mesmo em La Rioja para que se inscrevam nos cursos de idioma, que eu sou experiencia viva de que funciona mesmo e da resultado essa inversão em um mesmo.
Enfim, eu fui lá em Nantes e achei tudo maravilhoso, ótima estrutura, a oferta para ser um Attaché no hospital ter tudo pago pelo governo Francês funciona assim, eu simplesmente buscaria o chefe da área do hospital, por exemplo se quiser fazer uma especialização de otorrinolaringologia teria que escrever uma carta (no caso de Nantes a carta de pedido deve ser enviada com dois anos de antecedência) pedindo ao chefe de otorrino do hospital de Nantes para ser admitido como um attaché.
O autor que vos escreve entrando no CHU láá de Nantes 
Ok, mas oque é um attaché? Nem eu sei bem, pelo que entendi... attaché são pessoas que podem trabalhar em um hospital do governo sem ser um funcionário público do governo, se fosse um servidor de fato do estado francês seria um "Praticien Hospitalier".
 Attaché antes era nomeado de "vacataires" algo como, funcionário temporário. e justamente isso eu seria, teria direito a 1 ano de praticas na área que quisesse desde que fosse admitido, tendo tudo pago pelo governo. mas ai que entra a parte ruim, seria somente 1 ano não podendo prolongar o período.
Fui me informar como funciona para revalidar o diploma na França, para cidadãos não europeus é bem complicado, entendi que uma vez médico deveria fazer um exame na França e dependendo do resultado no melhor cenário teria que voltar e fazer novamente o ultimo ano de medicina mais outros anos de pratica pra enfim ser medico. E por mais que a França seja um país atualmente carente de médicos, sobretudo na campanha francesa onde a maioria não quer ir exercer, o país dificulta bastante a admissão de novos médicos.
É um pouco bizarro a França é um país muito generoso ao dar educação gratuita a estrangeiros, ela inverte dinheiro neles, mas uma vez que esse estrangeiro se forma ele fica impossibilitado de trabalhar se não é cidadão europeu e é forçado a voltar a seu país de origem, o bizarro é que justo quando ele vai trabalhar e consequentemente gerar mais ganhos em impostos e consumos para o estado francês simplesmente o impedem. Pelo menos essa é minha visão...
 Eu bem poderia correr atrás da cidadania portuguesa e ser cidadão europeu, mas pelo que pude ver é muito complicado, tenho ascendência portuguesa, espanhola e holandesa e nenhum desses países parece colaborar muito com uma eventual cidadania pelo que pude ver a Itália sim é um país que tem a cidadania acessível, ou seja se tens avós portugueses ou espanhóis, podes pedir cidadania, já a Itália te permite a cidadania até teus tataravós. Simplesmente você vai ate o consulado do país que quer cidadania mostra o documento provando que tem parentesco com teus antepassados e eles checam a entrada dele no Brasil ou país de origem e voilà depois de um tanto de tempo, dinheiro e burocracia tens tua cidadania europeia. No meu caso minha mãe pode ter cidadania europeia, eu não. Tampouco minha mãe pode transferir a  mim sua cidadania ou estende-la, no caso poderia obter por naturalização após viver 8 anos lá, pelo menos é oque vale para a Alemanha, creio que para todos os países da Europa.
Todas essas coisas me deixaram um pouco desanimado a respeito da França, a oportunidade que tenho é sem igual mas eu queria um período de experiencia profissional e de vida maior que 365 dias.
E ai está antes da França pude visitar meu primo na Alemanha um país bem mais receptivo para médicos e que definitivamente me apaixonei e escolhi que pretendo migrar para fazer residencia no futuro. Mas isso é tema para outro post... ;)

Já me matriculei na universidade e vou retomar as aulas do curso de alemão e também vou aprender o idioma árabe. Espero que todos que leram até aqui e tem possibilidades, aproveitem a oportunidade de aprender idiomas, abrem portas!
au revoir et à la prochaine!!!

domingo, 18 de março de 2018

Final de Infectologia

Depois das mesas de março de 2017 ficou por finalizar a matéria de infectologia.
Apesar de amigos dizerem que era fácil em mim ficava um medo, Infecto é uma matéria de respeito, um tanto longa pra dar oral e complicava a parte de remédios, tudo sobre antibióticos que o professor tanto gosta de perguntar.
O complicado era que cursava o quinto ano de medicina e ia tentar em uma mesa de maio onde sempre as matérias disputam lugar com os exames, porem como já elogiei as catedras do quinto ano, não houve tanta baderna e muitas deixaram o caminho livre, sem falar que esse ano começou a valer uma regra que não se poderia mais tomar exame parcial 1 semana antes e uma semana depois das mesas de finais oque eu AMEI pois é importantíssimo na unlar o aluno tirar exames finais. Cada vez mais os centros de estudantes vão ganhando voz dentro da universidade e protegem o interesse dos alunos.
Então ia estudando organizadamente e avançando com segurança em Infecto.
Porem ai que tá o professor titular dessa matéria é ninguém mais que o Dr. Strasorier um cordobés imprevisível que sempre aparece com uma surpresa desagradável e é um enigma seus horários, vale lembrar que há 2 anos quando cursava essa matéria da qual ele é professor titular ele foi responsável por colocar um seminário um dia antes numa segunda de noite sem aviso prévio justo numa semana de exames, eu tive que abortar de render bacteriologia na manhã seguinte e me concentrar estudando para ir em seu seminário, ele também que inventava seminários aos sábados a 7 da manhã, pois então não deixou de surpreender dessa vez, os dias de exames finais que eram tradicionalmente as terças feiras sofreram um cambio radical para o sábado, ou seja era um sábado antes de começar a semana de finais e isso significava que tinha dias a menos para estudar, isso me pegou de surpresa e me atrapalhou todo no planejamento, eu bem tentei mas não consegui estudar tudo dentro de esse prazo e desisti de render, por sorte eu falei com a Bruna Santos, uma amiga brasileira que cursa comigo é um anjo e ela foi no sábado render e combinamos de apresentarmos juntos, porem na madrugada da sexta eu mandei mensagem pra ela falando da minha desistência depois de dar todo o gás anoite e perceber que não ia chegar com segurança intelectual para o exame pela manhã.
A Bruna foi se apresentou e se deparou com outra surpresa. O professor geralmente é o único que não faz a avaliação no hospital de clinicas da universidade senão que na sua clínica privada, pois ele apareceu lá no hospital como de costume mandou todos os alunos irem a sua clinica, chegando lá ele viu que eram mais de 30 alunos e disse que eram muitos então redistribuiu 10 pra cada dia, 10 naquele sábado, 10 na segunda e mais 10 na terça, porem todos teriam que assinar a ata de exames e deixar a livreta universitária pra ter que render sim ou sim, era sem volta, então a Bruna se deu o trabalho de ligar pra mim e avisar dessa ideia miraculosa do professor assim eu teria os dias extras que precisava para estudar para cristalizar essa matéria completamente na minha mente e desenvolver um exame oral sem maiores problemas. Eu atendi escutei toda essa barbaridade que vos narrei e me vesti rapidamente agarrei a moto e voei pra clinica essa de infectologia. Chegando lá estavam somente os alunos que iam render aquele sábado, pedi licença entreguei a minha livreta e assinei meu nome dizendo que me apresentava na segunda feira, voltei pra casa e tinha como que renascido meus ânimos, a estudar Infectologia!
Apos estudar bem lá estava segunda feira cedo.
Ficamos os 10 alunos sentados na sala de espera do seu consultório e com prioridade a seus poucos pacientes iam passando de dois em dois alunos. Em geral Dr Straso ia pedindo um tema pra começar o exame e depois perguntava outras coisas e aliado a isso sempre antibióticos.
Passei e fui um dos últimos, entramos ao consultório eu e uma outra companheira e o doutor perguntou que temas íamos falar a principio e eu disse o que preparei. Brucelose e a compa Sífilis, o professor atendeu o celular e saiu da sala, quando voltou disse, damas primeiro e começou a perguntar a aluna ao meu lado sobre brucelose. O professor tinha invertido nossos temas!!!
Ou seja ele ia perguntar tudo de brucelose pra ela e eu teria que me preparar para sífilis!
Sempre que vejo Imhotep que interpreta a múmia no filme The Mummy 1999 me faz lembrar o professor Strasorier

Pra piorar parece que a companheira não tinha estudado nada de brucelose, não sabia direito a clinica, o agente, epidemiologia, o professor com muita paciência até ia ajudando ela, até perguntar em qual animal era comum já que era uma zoonose. E ela disse sem muita certeza que era nas vacas. NÃO!
Então o professor começou a me perguntar oque lhe respondi que era comum a presencia em gado caprino. Então o professor disse da importância dessa doença na província de La Rioja e no noroeste argentino onde é endemica nessa população de animais, que era imperdoável ela não saber, ainda lembrou o tanto de vezes que ele explicou isso em aula e reprovou ela.
Foi minha vez então, falar tudo sobre sífilis. Agente, clínica, fases da doença, doses de tratamento, seja com penicilina G ou eritromicina, então o professor quis saber a dose de antibiótico endovenoso em neurosífilis oque me fez hesitar na hora de responder e no diagnostico cometi um erro ao confundir vdrl com fta-abs qual era para determinar o diagnostico.
Sem maiores problemas o professor começou a perguntar sobre antibióticos, cefalosporinas de 1°, 2°, 3° e 4° geração. Antibióticos anti-pseudomonas. Queria saber especificamente qual antibiótico dentro do grupo dos carbapenemos, que respondi que o ertapenem não tinha espectro anti-pseudômona até então. E lembrei bem ao falar das fluoroquinolonas que o próprio professor tinha insistido em aula teórica que eram mal prescritas sobre todo em infecções do trato urinário e isso ajudava a criar resistência bacteriana. O professor gostou bastante de eu ter lembrado disso. E é assim em um exame o aluno sempre tem que ter a inteligencia de se antecipar aos pensamentos do professor e se possível lembrar pontos chaves, como ele tinha dito da importância das aulas quis demonstrar que prestei atenção e a tática deu certo.
Então o professor fez uma ultima pergunta. Qual é o antibiótico que tem maior concentração no sistema nervoso?
Não fazia ideia de qual era. Pensei em neuro infecções e lhe respondi. Ceftriaxona, cefalosporina de 3ra geração. Ele disse que não era esse. Então depois de mais 3 antibióticos falhos e sem opções nem ideias já começava a entrar em desespero. Não é uma cefalosporina? Olha eu realmente penso na ceftriaxona. O professor me olhou e rindo disse que a ceftriaxona só concentra no sistema nervoso 50% dos níveis plasmáticos no sangue.
Já vendo que estava perdido ele decidiu me ajudar.
"É um antibiótico que atua com potencial redox."
Após pensar um pouco lhe disse, "é o metronidazol?"
E ele afirmou que sim. Lhe respondi que o metronidazol é usado em algumas infecções de transmissão sexual ou por protozoários, não tinha a menor ideia que servia também para neuro infecções. Mas o professor disse que sim o metronidazol era o de melhor concentração no sistema nervoso além de ser conhecido pelo que eu tinha citado. Me convidou a me retirar do seu consultório me parabenizando. Aprovado, um 7. Menos uma!