Visão de um Estudante de Medicina Brasileiro em La Rioja, Argentina
Blog com objetivo de extravasar minhas ideias como Estudante de Medicina, ser uma página de memórias, mostrar um pouco da vida acadêmica em uma universidade pública Argentina, sanar dúvidas e tudo mais que seja útil.
domingo, 30 de novembro de 2025
Primeiro Trabalho como médico em La Rioja (Durante a pandemia Covid-19)
sábado, 6 de maio de 2023
Me formei, e agora? Viagem pela Patagônia.
Uma vez formado em medicina, não podemos exercer imediatamente a profissão pelo simples fato de ter que esperar colar o grau e receber o diploma, não existe na Argentina nenhum mecanismo para se trabalhar imediatamente e caimos em uma especie de limbo temporal até que tudo se acomode e se leve a cabo uma série de tramites administrativos para finalmente de forma legal exercermos a medicina, já ciente de antemão do drama de muitos colegas veteranos que se formavam e ficavam desesperados por começar a trabalhar e gerar renda eu me preparei economicamente para essa etapa.
Vamos falar agora dos meus macetes...
Eu sempre gostei de viajar e conhecer novos lugares. Fui parasita da minha mãe por sete anos enquanto estudei medicina, todo mês ela mandava dinheiro e rapidamente eu com total autonomia comecei a gerir muito bem meu dinheiro. Recebendo uma cômoda quantia de cerca de 400 a 500 dólares mensais, (num post antigo expliquei e demonstrei que gastava cerca de 6 mil dólares anuais). Com esse habito comecei a guardar reservas mensais em reais e todo fim de ano quando ia ao Brasil fazia um mochilão e conhecia algum lugar de interesse. Foi assim que conheci o sul do Brasil, as costas do Uruguai, Buenos aires, as cataratas do Iguaçu, Santiago do Chile, o sul do Chile e os lagos patagônicos da Argentina e Bariloche.
Com o tempo sentia vontade de ter mais contato com a natureza e mochilando era mais complicado, aceder a lugares mais naturais longe de tudo, foi assim que comecei a viajar de moto, de mochileiro me tornei motociclista, ou "motochileiro". Tinha uma honda wave que seria uma espécie de Honda Biz no Brasil e com essa motinho depois de ver que um argentino tinha chegado no México rodando eu me perguntei porque não? Ir até a patagônia profunda, até o Ushuaia a cidade mais ao sul do mundo a apenas mil quilômetros da Antártica. Assim dois anos antes de me formar vencendo muitos medos e preconceitos, rodei com minha moto toda a província de La Rioja, 600km, depois de um tempo fiz a viagem mais doida, até Mendoza em uma semana, 1400 km, nenhum problema com a motinho, falei comigo, pronto se rodou 1400 sem problemas... Outro doido foi até o México, eu vou tranquilo até o Ushuaia! E assim foi durante 1 ano me preparei para essa viagem enquanto cursava o tramo final da carreira de medicina. e Assim que me formei vendi todas minhas coisas entreguei meu apto e com mil dolares no bolso sai para a melhor viagem da minha vida.
com apenas 800 dólares oque na época foram 73 mil pesos argentinos ou cerca de 3500 reais eu viajei por 74 dias 12 mil km.
Eu pensava que depois de 1 semana viajando sem parar eu já ia querer parar de viajar, tinha esse temor, ledo engano, descobri que isso me trazia extrema felicidade e pude ficar meses fazendo isso.
Acho que nunca coloquei tantas fotos minhas no blog, do meu rosto. Essa viagem me fez crescer muito, as viagens, mochila, moto viagem, de certa maneira viraram meu passatempo favorito, nessa viagem fiz de tudo e convivi comigo mesmo, diria que é um excelente período de introspecção.
E recomendo muito a todos aqueles que estudam medicina quem acompanha esse blog, depois que você se formar, tire esse tempo para você porque uma vez que começamos a trabalhar é sem volta um circulo infinito de trabalho e estudos, portanto aproveitem a dadiva e alegria de serem médicos e de viajarem com a maior satisfação do mundo, planejem, guardem dinheiro para essa etapa post exame final de medicina e viagem muito, fiquem com as pessoas que amam, façam oque lhes faça feliz... É meu conselho.
domingo, 8 de janeiro de 2023
Internato de Pediatria e Exame Final de Carreira em Medicina
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| Com meu amigo Facundo Carrizo (atualmente Cardiologista em 2023) Felizes por ter aprovado a segunda mesa de Tocoginecologia. |
segunda-feira, 11 de julho de 2022
Internato de Cirurgia
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| Com permissão da cirurgiã eu retirei uma foto de essa vesícula biliar, retirada em uma cx a céu aberto momentos antes de uma paciente. |
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| Ultimo dia de internato em CX Turma reunida |
domingo, 7 de março de 2021
Internato de Tocoginecologia
Com certeza o formato de postagem talvez mude, não tenho lembranças tão vividas de eventos de mais de um ano atrás mas vou me esforçar e espero que gostem.
Depois do internato de clinica médica veio este e ele é dividido em dois meses, 1 mês para obstetrícia e 1 mês para Ginecologia, no primeiro grupo de obstetrícia que era o mais difícil foram os internos mais experientes (Pratica final obrigatória 30 - PFO30) e no outro minha turma que começamos em fevereiro(PFO 31), porem no sorteio eu fui jogado para ir com os mais experientes (PFO30) já que nosso grupo (PFO31) era maior e pra ficar bem distribuído eu passei sem querer pro lado de lá.
Comecei então com o internato que demandava mais energia que era o de Obstetricia e depois finalizaria com o de Ginecologia que é mais tranquilo e os experientes usariam para estudar já para os exames finais da carreira oque não era meu caso naqueles meses de abril e maio de 2019 já que meu exame final seria somente em dezembro desde que aprovasse tudo, é claro.
ATENCAO!! A partir daqui comecaram os erros de ortografia em portugues pois estou digitando desde os momentos de calmaria do plantao no hospital e o teclado nao é abnt, pt brasileiro assim que peco desculpas desde já.
E assim comecei o internato no servico de obst. Durante a semana vamos pelas manhas no hospital materno acompanhar as pacientes, em uma ala estao as pacientes todavia em gestacao e em outra as puerperas na maioria dos casos com seus bebes. Quem manda nesse setor é o Dr. Torres que é o ecografista do hospital e nosso superior direto universitario, porem ele sempre fica trancado na sala de ecografia e nao gosta de ser perturbado, alem de que ele exige que vamos todos os dias e cumpramos os horarios. Na verdade na internacao nao tem muito oque fazer, mais observar as gestantes ou puerperas, fazer historia clinica, controlar feridas de cirurgia se houver e nada mais, portanto é chato estar lá. Como ninguém fiscalizava muitos alunos iam embora mais cedo, para a ira do Dr. Torres se ele descobria que alguem escapuliu, mas se o professor nao esta presente nem ensina nao ha muito oque fazer a respeito nao é?
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| Ecografia transvaginal com um saco gestacional no utero. Uma moça tinha consultado por atraso menstrual e estava feito o diagnóstico com a eco. |
os professores são bem relaxados os mesmos da cátedra de ginecologia do quarto ano de medicina da unlar, acompanhamos plantão de ginecologia no hospital, seguimento de pacientes com câncer de mama ou útero e anexos, no posto de saúde acompanhamos tudo que involucra ginecologia sobretudo anticoncepção, e outra vez no hospital acompanhamos as cirurgias, como ressecção de tumores mamários e abordagem do gânglio sentinela.
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| Últimos dias de rotação de gineco, entrando para acompanhar uma cirurgia de extração de tumor mamario. |
Enfim uma rotação tranquila a de ginecologia porque acompanhamos em todas frentes, vemos grande quantidade de enfermidades que estudamos no curso, aprendemos e não existe a pressão de exames na rotação, portanto quem aplica e pratica ativamente tem um grande proveito.
terça-feira, 30 de abril de 2019
Sexto e Ultimo ano, dada a largada do Internato!! (CLINICA MÉDICA)
Olá galera, faz muuuuito tempo que não escrevo no blog e peço desculpas, depois que terminei o quinto ano de medicina e entrei no limbo de exames finais que me fez perder o ano de 2018 inteiro para poder aprovar tudo! ... Eu me decidi a primeiro aprovar todos os exames e depois escrever 1 por 1 os posts, coisa é que no fim de 2017 comecei com o canal do youtube com a temática de viagens, e a verdade é que isso de editar videos me quita muito tempo! (E também é muito prazeroso escrever somente em português já que nos videos me esforço para escrever as legendas em pt, es e ing e isso muitas vezes é um saco! Escrever tudo denovo em outras línguas xD VIVA O NOSSO PORTUGUÊS). Bem... E o blog foi ficando para depois e depois e depois... Portanto, creio que não irei escrever sobre os exames finais, resumindo as matérias que me custaram mais do quarto ano foram, farmacologia básica o qual rendi 2 vezes, e clinica neurológica que rendi duas vezes também. E logo do quinto ano oque mais me deu dor de cabeça foi a matéria de obstetrícia a qual rendi 3 vezes antes de aprovar e terminar definitivamente com todas as matérias e ter acesso ao internato de medicina. Obstetrícia me custou tanto que somente aprovei ela no mês de setembro, perdi a oportunidade de aprovar ela em julho e assim começar o internato em agosto, porem não pude, fazer oque... Nesse ínterim voltei ao Brasil e trabalhei voluntariamente acompanhando um médico no município de Cotia na região metropolitana de São Paulo até viajar e etc e voltar a La Rioja no final de janeiro deste ano (2019). Então como as viagens e videos seguem a todo vapor vou saltar todos os exames finais, já que vejo que não recebem tantas visualizações e se você leitor quiser saber acerca de algum exame especifico dessa reta final da carreira de medicina, faça presente sua vontade no espaço de comentários abaixo que espero sanar sua dúvida e se forem muitas escrevo um post sobre a matéria em questão.
INTERNATO DE CLINICA MÉDICA
E começamos o internato, não sem antes esperar que se terminaram as mesas de exames de fevereiro para os últimos estudantes terem aprovado todos os exames e conseguirem a tão esperada qualificação para aceder a Pratica Final Obrigatória (PFO). Outra palavra para dizer internato ou rotação, já que rotam em 4 áreas da medicina. Então, eu conformo o grupo da PFO 31 que começou em fevereiro/março e vai até dezembro, e fazemos junto com a PFO 30 que começou em agosto de 2018 e terminará em agosto de 2019 onde começa o ciclo da PFO 32 e assim por diante... No começo todo o grupo de estudantes do sexto se une com o professor coordenador que no caso é o chefe de Pediatria Dr. Danon e ele explica como funciona o internato, os alunos são divididos em 4 grupos e cada grupo vai rotando nas areas, por exemplo no meu caso eu fiquei com o grupo 2. Que começa com Clinica Médica até maio, logo passa a Tocoginecologia (1 mês em obstetrícia e outro mês em ginecologia) até julho. Logo em agosto roto por Cirurgia e na ultima etapa roto por Pediatria.
Sem mais delongas logo comecei com Clinica Médica no principal hospital de La Rioja. O Hospital Vera Barros. Logo no primeiro dia somos divididos entre os professores em grupos menores de 3 alunos cada, alguns vão para posto de saúde ou hospitais privados no meu caso fiz tudo no H. Vera Barros que é o maior hospital de toda a província e é público. 1 mês passamos no internado e outro mês ficamos em consultórios. No internado, que fizemos primeiro, meu grupo (Eu brasileiro, uma estudante colombiana e outra argentina) fomos designados a ficar com o Dr Mercado. E creio que não poderia haver melhor tutor que esse homem. Preceptor de Clinica Médica, todas as manhãs íamos ao hospital, esperávamos ou auxiliávamos os residentes de clínica médica até as 9 da manhã hora que os guardas pediam aos familiares que se retirassem e começava a revista médica até as 11 da manhã. No nosso caso o Dr Mercado acompanhado de outro preceptor, dois residentes e nós internos, munidos de histórias clinicas passávamos de quarto em quarto, cama em cama e visitávamos todos os pacientes que pertenciam a esses médicos. Primeiro o residente apresenta o paciente, logo os preceptores avaliam e dizem oque deve ser feito, diagnóstico, tratamento e evolução. E nós internos mais vemos, falamos pouco e escutamos muito. No caso do Dr. Mercado era interessante a atenção que ele dava a nós internos, aos residentes e em especial ao enfermo. Examinava e colocava em prática a clínica e o exame físico e isso ajudou muito no aprendizado. Se tinha que ver algo, seja no paciente ou nas imagens era exibido ali para todos. E isso foi repetido religiosamente e segue sendo até hoje, imagino, todos os dias as visitas atendendo a todos, não importando se é jovem, velho, obeso, magro, presidiário, imunodeprimido, demente, ou louco a atenção sempre é dada a todos. Depois da revista de sala. O Dr. nos mandava a fazer histórias clinicas, para ele corrigir, isso na primeira etapa do internato com o passar das semanas e nossa pratica já eximia em histórias clinicas completas, o Dr. pedia para estudarmos um tema previamente, onde nos levava a uma sala no hospital e nos ensinava. Por exemplo Síndrome Ascítico Edematoso, depois de nos dar um tempo para ler em casa ao dia seguinte ele apenas ia perguntando qual a definição, prevalência, tudo... Como receber o paciente, qual o manejo dentro do hospital, o tratamento, remédios, doses, ou no caso de punção de liquido ascítico, quanto retirar e logo quanto repor de albumina para cada ml retirado no caso de se for muito liquido... Tudo que devemos fazer até a hipotética melhora e alta hospitalar do paciente. E assim foi com vários temas, como raios -X, EPOC, AVC, Eletrocardiograma e suas complicações e etc, tudo ali explicado e logo oque vemos na pratica.
Alguns dias o Dr se retirava mais cedo e simplesmente nos colocava a disposição de seu residente a cargo, se haviam tempo livre podíamos ficar na sala de médicos onde havia um clima de muito respeito e cordialidade entre todos um local que mesmo sendo estudante me sentia bem e não um estranho. A ficar ai sentados lendo prontuários médicos e evoluções de pacientes que chamassem a atenção ou senão estávamos a serviço do residente quando esse necessitava um auxilio oque passava quase sempre, e ai muitas vezes fazemos admissões de pacientes, no caso se os auxiliares estão ocupados levamos pacientes a exames, buscamos coisas no laboratório, controlamos exames de rotina buscando valores fora do comum, fazemos eletrocardiograma, ou gases em sangue. Aqui vale bastante o intercambio já que os estudantes se ajudam, nos meus primeiros dias me vi amparado pelos estudantes da Barceló que faziam o internato de Clinica Médica e já estavam a mais semanas e tinham maior experiencia, eles te ensinam o básico como um eletrocardiograma, como corrigir um eletrodo defeituoso etc. E assim gira no final do meu internato coincidia com o inicio do internato de estudantes da Barceló e eles começam sem saber nada e apreensivos, no meu caso tocou a mim a ensinar a eles a fazer eletrocardiograma, gases em sangue, e o engraçado é que me olhavam como se eu fosse um residente ou alguém com muita experiencia e dizia simplesmente que era igual a eles e que algumas semanas antes os mesmos alunos da Barceló haviam me ensinado os truques hahaha. Experiencias como essa fazem com que o companheirismo aumente, sobretudo dividir plantões. Ah os plantões! No nosso caso devemos dar 6 plantões de 12h em todo o internato. Eu fora escalado para dar plantões aos sábados, oque tem seu lado bom e ruim. O bom é que não há ninguém no hospital no sábado então as praticas caem todas nas nossas mãos e o ruim é que você perde um sábado inteiro, coisa que uma pessoa que faz o plantão durante a semana, sempre tem um final de semana para gozar em vida social. No começo gostei depois achei tremendamente injusto eu trabalhar um dia a mais e tratei de fazer meus plantões durante a semana também na reta final do internato nessa área. No fim meu internato foi todo no setor de internado, porque quando passei a consultório externo minha tutora era uma péssima médica, íamos cedo ao seu setor e ela dizia para irmos ao internado acompanhar os preceptores e nada de praticas com ela no consultório, a sensação que tinha era que era alguém indesejado e que queriam se livrar de nós internos. As vezes que ia até seu setor para assinar minha presença a surpreendia no celular ou tomando chimarrão jogando conversa fora, assim que meu respeito por ela foi la embaixo e já no final das contas meu pequeno grupo de internos fazia pouco caso dela e buscávamos fazer as praticas por nós mesmos no hospital, e é assim no internato as vezes te tocam tutores sensacionais e excelentes como o Dr. Mercado e médicos como esse que não vou citar o nome e que não te agregam em nada na sua formação. Fora isso as sextas ferias tínhamos aula com o chefe de Clinica Médica, Dr. Sosa que vinha desde Córdoba e dava aulas larguíssimas de em média 7 horas com paradas minimas de 15 minutos para comer, mas que ensinou sempre com entusiasmo e colocando os alunos para cima. Junto a ele fizemos duas provas simples e depois de entregar muitas histórias clínicas que ele exige ganhamos a aprovação do internato.
Na minha visão oque eu senti é que, oque diziam do internato é verdade, se você quiser aprender você vai atrás, ninguém vai ficar atrás de você te cobrando, sua consciência é seu juiz. No começo eu detestava ter que fazer histórias clínicas de pacientes confusos, mentirosos ou pouco fidedignos ou indiretas, onde você indaga o parente do paciente, tinha terror de que em um exame me tocará um paciente que não cooperasse ou nas características anteriores, porem fiz tantas histórias clínicas, aprendi tanto seja de professores ou residentes que já o final me sentia super seguro não importando que paciente fora, essa segurança sem dúvidas me trouxe a experiencia diária que adquiri nesse internato e que com certeza me fez aprender muito. Você que lê isso não faz ideia das varias experiencias que só com um fechar de olhos me vem a cabeça e a memória e que eu vivi no hospital nesse período de tempo, a citar algumas, preparar carrinho e acompanhar o desenlace e complicações de um acesso venoso central, que as enfermeiras te chamem e esperem oque fazer enquanto um paciente se debate violentamente tendo um ataque epiléptico até se acalmar com um benzodiazepínico endovenoso, fazer uma aspiração bronquial, a primeira vez que fazemos gases em sangue, presenciar casos floridos que além de incomuns, parecem saídos de seriados médicos norte americanos onde o paciente parece que tem um sindrome que caracteriza uma doença x e do nada ele começa com outros sintomas que enquadram ele em outra doença completamente diferente, e logo vão surgindo coisas sem pé nem cabeça mas que a equipe de saúde tem que resolver e estabilizar kkkk e varias outras experiencias.
segunda-feira, 19 de março de 2018
A Importância de Aprender Idiomas na Universidade. (Como ganhei uma bolsa de estudos na França.)
Lembram que escrevi aqui no blog as ideias que tinha sobre o futuro e porque decidi começar a aprender francês, aqui vos deixo neste link minhas ideias de 2013. Em síntese quis aprender esse idioma porque queria (e ainda quero) exercer medicina na Africa, continente que tem muitos países francofonos.
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| Semana de las Naciones 2014 UNLaR |
Nunca me esqueço que quando fazia cursinho no Objetivo na capital paulista o professor de geografia Moacyr Nogueira Jr. Dizia. "Quando vocês entrarem na faculdade se espera que vocês tenham amplo domínio da língua portuguesa e inglesa, na universidade junto ao curso devem já aprender o terceiro idioma, isso vai fazer uma diferença muito grande quando estiverem terminando a universidade."
E realmente ele tinha razão. Hoje falo fluentemente Português, Inglês, Espanhol, depois de quase 4 anos tenho consolidado o nível intermediário de Francês e o básico de Alemão que estudei por dois anos antes de migrar para a Argentina.
Não é só dedicação, aprender um novo idioma também é um investimento em você mesmo. Muitas vezes não é barato, mas a UNLaR se supera nisso, com mensalidades que nunca iam alem dos 100 reais por mês e hoje em 2018 se mantem no cambio em torno de 60 reais (AR$400) só não aprende idioma quem não quer!
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| O autor deste blog apresentando música francesa na semana de las naciones de 2016 da UNLaR |
Ocorreu ao acaso. No ano de 2017 quando já não cursava mais francês pois tinha atingido o nível máximo no curso que a universidade oferecia eu sai um dia para fazer compras em um hipermercado no centro de La Rioja e lá me deparei com uma senhora que buscava algum chá com muita atenção na seção de infusões, passei por ela e pensei será que ela precisa de ajuda? Mas deixei pra lá poucos minutos depois ao voltar pelo corredor lá estava ela procurando todavia, então decidi oferecer ajuda. Ela me disse que buscava chá de boldo. Por ser alto podia verificar todas as caixinhas de chá das seções mais altas e logo localizei oque ela buscava. Ela agradeceu e com poucas palavras detectou que eu não era de La Rioja, lhe expliquei que era brasileiro do sudeste do Brasil, São Paulo. Já ela disse que era riojana porem vivia há mais de 30 anos na França e lá não existe chá de boldo razão pela qual ela queria levar consigo. Surpreso imediatamente perguntei ''-" -Ahh Parlez vous Français?" "-Oui, trés bien!" E degringolamos a falar francês no meio do mercado.
Naquele mesmo dia a Dona Herminia que estava visitando sua mãe em La Rioja me convidou para um chá, que estive de acordo de ir depois das aulas no hospital escola, conversamos por horas ela se encantou com meu nível de francês, explicou que o irmão dela era médico em La Rioja. Dr. Carrara formado na Universidad Nacional de Córdoba e tinha feito especialização em otorrinolaringologia na cidade francesa que vivia, Nantes, com ajuda dela e me oferecia fazer o mesmo que fez pelo seu irmão.Eu fiquei com um pouco de receio mas ela insistiu que teria melhor educação na França e valorização por ser em euros. Eu lhe expliquei que por acaso ao fim de 2017 iria para Europa passar o fim de ano com familiares em Portugal e daria um jeito de visitar ela em Nantes e ver de perto estando lá e analisaria com cuidado, mas que estava felicíssimo e agradecido pela oferta, jamais imaginei que isso iria cair do céu para mim dessa forma. E assim foi. No mês de janeiro de 2018 lá estava eu em Nantes, Atlantique, Pays de la Loire, France.
Eu espero editar o vídeo no youtube e colocar o link aqui no futuro mostrando mais sobre a França, só estou adiantando esse post porque tenho pressa em escrever ele e abrir os olhos dos brasileiros que estudam na unlar ou mesmo em La Rioja para que se inscrevam nos cursos de idioma, que eu sou experiencia viva de que funciona mesmo e da resultado essa inversão em um mesmo.
Enfim, eu fui lá em Nantes e achei tudo maravilhoso, ótima estrutura, a oferta para ser um Attaché no hospital ter tudo pago pelo governo Francês funciona assim, eu simplesmente buscaria o chefe da área do hospital, por exemplo se quiser fazer uma especialização de otorrinolaringologia teria que escrever uma carta (no caso de Nantes a carta de pedido deve ser enviada com dois anos de antecedência) pedindo ao chefe de otorrino do hospital de Nantes para ser admitido como um attaché.
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| O autor que vos escreve entrando no CHU láá de Nantes |
Attaché antes era nomeado de "vacataires" algo como, funcionário temporário. e justamente isso eu seria, teria direito a 1 ano de praticas na área que quisesse desde que fosse admitido, tendo tudo pago pelo governo. mas ai que entra a parte ruim, seria somente 1 ano não podendo prolongar o período.
Fui me informar como funciona para revalidar o diploma na França, para cidadãos não europeus é bem complicado, entendi que uma vez médico deveria fazer um exame na França e dependendo do resultado no melhor cenário teria que voltar e fazer novamente o ultimo ano de medicina mais outros anos de pratica pra enfim ser medico. E por mais que a França seja um país atualmente carente de médicos, sobretudo na campanha francesa onde a maioria não quer ir exercer, o país dificulta bastante a admissão de novos médicos.
É um pouco bizarro a França é um país muito generoso ao dar educação gratuita a estrangeiros, ela inverte dinheiro neles, mas uma vez que esse estrangeiro se forma ele fica impossibilitado de trabalhar se não é cidadão europeu e é forçado a voltar a seu país de origem, o bizarro é que justo quando ele vai trabalhar e consequentemente gerar mais ganhos em impostos e consumos para o estado francês simplesmente o impedem. Pelo menos essa é minha visão...
Eu bem poderia correr atrás da cidadania portuguesa e ser cidadão europeu, mas pelo que pude ver é muito complicado, tenho ascendência portuguesa, espanhola e holandesa e nenhum desses países parece colaborar muito com uma eventual cidadania pelo que pude ver a Itália sim é um país que tem a cidadania acessível, ou seja se tens avós portugueses ou espanhóis, podes pedir cidadania, já a Itália te permite a cidadania até teus tataravós. Simplesmente você vai ate o consulado do país que quer cidadania mostra o documento provando que tem parentesco com teus antepassados e eles checam a entrada dele no Brasil ou país de origem e voilà depois de um tanto de tempo, dinheiro e burocracia tens tua cidadania europeia. No meu caso minha mãe pode ter cidadania europeia, eu não. Tampouco minha mãe pode transferir a mim sua cidadania ou estende-la, no caso poderia obter por naturalização após viver 8 anos lá, pelo menos é oque vale para a Alemanha, creio que para todos os países da Europa.
Todas essas coisas me deixaram um pouco desanimado a respeito da França, a oportunidade que tenho é sem igual mas eu queria um período de experiencia profissional e de vida maior que 365 dias.
E ai está antes da França pude visitar meu primo na Alemanha um país bem mais receptivo para médicos e que definitivamente me apaixonei e escolhi que pretendo migrar para fazer residencia no futuro. Mas isso é tema para outro post... ;)
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au revoir et à la prochaine!!!
domingo, 18 de março de 2018
Final de Infectologia
Apesar de amigos dizerem que era fácil em mim ficava um medo, Infecto é uma matéria de respeito, um tanto longa pra dar oral e complicava a parte de remédios, tudo sobre antibióticos que o professor tanto gosta de perguntar.
O complicado era que cursava o quinto ano de medicina e ia tentar em uma mesa de maio onde sempre as matérias disputam lugar com os exames, porem como já elogiei as catedras do quinto ano, não houve tanta baderna e muitas deixaram o caminho livre, sem falar que esse ano começou a valer uma regra que não se poderia mais tomar exame parcial 1 semana antes e uma semana depois das mesas de finais oque eu AMEI pois é importantíssimo na unlar o aluno tirar exames finais. Cada vez mais os centros de estudantes vão ganhando voz dentro da universidade e protegem o interesse dos alunos.
Então ia estudando organizadamente e avançando com segurança em Infecto.
Porem ai que tá o professor titular dessa matéria é ninguém mais que o Dr. Strasorier um cordobés imprevisível que sempre aparece com uma surpresa desagradável e é um enigma seus horários, vale lembrar que há 2 anos quando cursava essa matéria da qual ele é professor titular ele foi responsável por colocar um seminário um dia antes numa segunda de noite sem aviso prévio justo numa semana de exames, eu tive que abortar de render bacteriologia na manhã seguinte e me concentrar estudando para ir em seu seminário, ele também que inventava seminários aos sábados a 7 da manhã, pois então não deixou de surpreender dessa vez, os dias de exames finais que eram tradicionalmente as terças feiras sofreram um cambio radical para o sábado, ou seja era um sábado antes de começar a semana de finais e isso significava que tinha dias a menos para estudar, isso me pegou de surpresa e me atrapalhou todo no planejamento, eu bem tentei mas não consegui estudar tudo dentro de esse prazo e desisti de render, por sorte eu falei com a Bruna Santos, uma amiga brasileira que cursa comigo é um anjo e ela foi no sábado render e combinamos de apresentarmos juntos, porem na madrugada da sexta eu mandei mensagem pra ela falando da minha desistência depois de dar todo o gás anoite e perceber que não ia chegar com segurança intelectual para o exame pela manhã.
A Bruna foi se apresentou e se deparou com outra surpresa. O professor geralmente é o único que não faz a avaliação no hospital de clinicas da universidade senão que na sua clínica privada, pois ele apareceu lá no hospital como de costume mandou todos os alunos irem a sua clinica, chegando lá ele viu que eram mais de 30 alunos e disse que eram muitos então redistribuiu 10 pra cada dia, 10 naquele sábado, 10 na segunda e mais 10 na terça, porem todos teriam que assinar a ata de exames e deixar a livreta universitária pra ter que render sim ou sim, era sem volta, então a Bruna se deu o trabalho de ligar pra mim e avisar dessa ideia miraculosa do professor assim eu teria os dias extras que precisava para estudar para cristalizar essa matéria completamente na minha mente e desenvolver um exame oral sem maiores problemas. Eu atendi escutei toda essa barbaridade que vos narrei e me vesti rapidamente agarrei a moto e voei pra clinica essa de infectologia. Chegando lá estavam somente os alunos que iam render aquele sábado, pedi licença entreguei a minha livreta e assinei meu nome dizendo que me apresentava na segunda feira, voltei pra casa e tinha como que renascido meus ânimos, a estudar Infectologia!
Apos estudar bem lá estava segunda feira cedo.
Ficamos os 10 alunos sentados na sala de espera do seu consultório e com prioridade a seus poucos pacientes iam passando de dois em dois alunos. Em geral Dr Straso ia pedindo um tema pra começar o exame e depois perguntava outras coisas e aliado a isso sempre antibióticos.
Passei e fui um dos últimos, entramos ao consultório eu e uma outra companheira e o doutor perguntou que temas íamos falar a principio e eu disse o que preparei. Brucelose e a compa Sífilis, o professor atendeu o celular e saiu da sala, quando voltou disse, damas primeiro e começou a perguntar a aluna ao meu lado sobre brucelose. O professor tinha invertido nossos temas!!!
Ou seja ele ia perguntar tudo de brucelose pra ela e eu teria que me preparar para sífilis!
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| Sempre que vejo Imhotep que interpreta a múmia no filme The Mummy 1999 me faz lembrar o professor Strasorier |
Pra piorar parece que a companheira não tinha estudado nada de brucelose, não sabia direito a clinica, o agente, epidemiologia, o professor com muita paciência até ia ajudando ela, até perguntar em qual animal era comum já que era uma zoonose. E ela disse sem muita certeza que era nas vacas. NÃO!
Então o professor começou a me perguntar oque lhe respondi que era comum a presencia em gado caprino. Então o professor disse da importância dessa doença na província de La Rioja e no noroeste argentino onde é endemica nessa população de animais, que era imperdoável ela não saber, ainda lembrou o tanto de vezes que ele explicou isso em aula e reprovou ela.
Foi minha vez então, falar tudo sobre sífilis. Agente, clínica, fases da doença, doses de tratamento, seja com penicilina G ou eritromicina, então o professor quis saber a dose de antibiótico endovenoso em neurosífilis oque me fez hesitar na hora de responder e no diagnostico cometi um erro ao confundir vdrl com fta-abs qual era para determinar o diagnostico.
Sem maiores problemas o professor começou a perguntar sobre antibióticos, cefalosporinas de 1°, 2°, 3° e 4° geração. Antibióticos anti-pseudomonas. Queria saber especificamente qual antibiótico dentro do grupo dos carbapenemos, que respondi que o ertapenem não tinha espectro anti-pseudômona até então. E lembrei bem ao falar das fluoroquinolonas que o próprio professor tinha insistido em aula teórica que eram mal prescritas sobre todo em infecções do trato urinário e isso ajudava a criar resistência bacteriana. O professor gostou bastante de eu ter lembrado disso. E é assim em um exame o aluno sempre tem que ter a inteligencia de se antecipar aos pensamentos do professor e se possível lembrar pontos chaves, como ele tinha dito da importância das aulas quis demonstrar que prestei atenção e a tática deu certo.
Então o professor fez uma ultima pergunta. Qual é o antibiótico que tem maior concentração no sistema nervoso?
Não fazia ideia de qual era. Pensei em neuro infecções e lhe respondi. Ceftriaxona, cefalosporina de 3ra geração. Ele disse que não era esse. Então depois de mais 3 antibióticos falhos e sem opções nem ideias já começava a entrar em desespero. Não é uma cefalosporina? Olha eu realmente penso na ceftriaxona. O professor me olhou e rindo disse que a ceftriaxona só concentra no sistema nervoso 50% dos níveis plasmáticos no sangue.
Já vendo que estava perdido ele decidiu me ajudar.
"É um antibiótico que atua com potencial redox."
Após pensar um pouco lhe disse, "é o metronidazol?"
E ele afirmou que sim. Lhe respondi que o metronidazol é usado em algumas infecções de transmissão sexual ou por protozoários, não tinha a menor ideia que servia também para neuro infecções. Mas o professor disse que sim o metronidazol era o de melhor concentração no sistema nervoso além de ser conhecido pelo que eu tinha citado. Me convidou a me retirar do seu consultório me parabenizando. Aprovado, um 7. Menos uma!
segunda-feira, 26 de junho de 2017
A Cursada do 5to ano de Medicina da UNLaR
O quinto ano é integrado por 12 matérias.
Na primeira metade do ano se cursa
-Clinica Traumatológica
e uma matéria -Eletiva. No caso eu escolhi cursar duas.
-Medicina da Dor
-Genética
Na segunda metade do ano se cursa
alem de outra matéria eletiva, as seguintes...
-Clinica Otorrinolaringológica
-Clinica Urológica
-Farmacologia Clinica
Pra fechar existem as matérias anuais.
-Clinica Medica 2 (também chamada de Medicina Interna)
-Clinica Cirúrgica 1
-Clinica Pediátrica
-Clinica Obstétrica e Perinatológica.
Saúde 5 e Legal eu editei porque cursei ano passado as outras não pude cursar por estar livre em Clínica Médica 1.
O esquema de grade horário da primeira metade do ano que tive \/
Então vou passar minha visão pessoal sobre as matérias.
Traumato
Essa matéria somente possui um teórico semanalmente, a verdade foi que não gostei muito dela pois é teórica demais, zero praticas, por exemplo gesso, vemos as classificações sabemos exatamente como é como fazer, mas nada de por a mão na massa só o livro, então foi frustrante, quando fui ao Brasil pude ver que muitos estudantes poem a mão na massa, na unlar não é assim, senti que ficou devendo quanto a parte pratica,
O Dr. Parada é o titular e os teóricos são tranquilos, fora ele tem o Dr. Zuzunaga, esse tem que estar atento, grande profissional os teóricos são muito claros, é encantador o seu sotaque peruano (primeiro professor não argentino que tive na carreira) as aulas são muito boas, objetivas e recheadas de informação, sempre atento as dúvidas, o aluno só tem que estar atento e estar no hospital na hora exata pois esse professor é extremamente pontual, quem chega atrasado fica pra fora do anfiteatro!
Saúde 5
Essa matéria cursei no ano passado, não tem muito oque comentar, já que temos Saúde publica desde o primeiro ano de medicina.
Eletivas
Vou falar das que cursei.
Med Dolor
Quem comanda é a Dra. Pascale, é outra profissional que faz questão que se este pontualmente no horário senão ela da uma bronca grande no aluno que chega no teórico depois que começou a aula. Sempre explica bem a aula com muito enfoque na neurologia sua especialidade. Primeiro ela faz um repasso em neuro anatomia e fisiologia pra depois mergulhar na clinica da dor, ela interatua bastante com a turma e faz perguntas durante a aula, se o pessoal não responde ela tende a ficar brava. no final do curso ela realiza uma avaliação bem rigorosa, pelo menos assim foi no meu ano, em geral o pessoal cola e vai bem. Eu que não colei me dei mal, tirei uma nota baixa, um 6, foi frustrante.
Genética
As aulas são ministradas pela Dra. Carrizo, excelente profissional, pediatra e diretora da área de neonatologia do principal hospital infantil de La Rioja. na verdade ela enfoca somente na parte de doenças da genética e não vai a fundo nessa disciplina, então vemos basicamente as enfermidades distribuídas no gráfico ao lado.
Pra obter a Promoção ela permite que alunos se agrupem em 2 ou 3 pessoas e escolham um tema pra realizar monografia, por exemplo eu escolhi o tema do Misoprostol, remédio que é usado ilegalmente para induzir o aborto, só que quando não funciona ele produz o Síndrome de Moebius, afetação cada vez mais frequente nas unidades de neonatologia de países onde o aborto é ilegal. No caso o Misoprostol se enquadra dentro do que seriam alterações teratogênicas.
Quanto as matérias anuais.
Med Interna
Seria a principal matéria do quinto ano. mas diria que rivaliza a atenção com obstetrícia hehe Já vão ver quando chegue no tema de obst...
Tem dois teóricos semanais com vários professores dando aula, o Titular é o Dr Molina, eles exigem que se saibam todos os temas do programa para as avaliações, a catedra se baseia no famoso Harrison, livro que creio eu é o principal e mais difundido em medicina interna do mundo. Então quem já viu o harrison sabe o monstrinho que ele é, são dois volumes e deve ter mais conteúdo que a bíblia ou a trilogia do anel do Tolkien. É larguíssimo. Custa uma fortuna. (mesmo fotocopiado) E demanda muito tempo de leitura.
Bom os teóricos... eu pessoal e sinceramente acho que são ruins. Porque os médicos/professores não tem vocação de ensinar, eles leem o powerpoint para os alunos, isso quando não vomitam a matéria passando os slides rapidamente. A realidade da Argentina é a seguinte, os professores (todos) são infelizes e vivem em guerra com o governo, esse ano houve alguns dias sem aula por greve geral de professores no país (geral mesmo, tudo parado) e então os professores do curso de medicina (que em geral não se involucram nas greves) seguiam o sindicato e não ditavam as aulas, isso aconteceu bastante com Interna. Lembrando que minha universidade é publica, acredito que isso não aconteça em universidades particulares. Pois bem... Os professores não recuperavam as aulas então em maio e junho os conteúdos foram praticamente vomitados para os alunos, coisa que me desapontou, pior que o aluno é obrigado a ir nas aulas, eu não iria e preferiria ficar em casa lendo o Harrison e estudando de outras fontes. Porem todos os temas foram ditados... Na primeira parte do ano vemos tudo que é Respiratório, Cardíaco, Digestivo e Renal.
Quanto as praticas, eu tenho com o Dr. Somerville, ele é oncologista e o professor titular de medicina interna da Barceló, faculdade privada com curso de medicina de La Rioja, é um cara que sabe muito de medicina. Os práticos são ministrados em uma clinica particular e nos juntamos pra discutir casos.
Parece Dr. House... Ficamos sentados e o professor vai passando os casos clínicos e extraindo exaustivamente nossa capacidade de raciocinar, com perguntas, exames, até encontrar o diagnóstico, Como ele domina muito bem a medicina interna ele trás uns casos bem difíceis e dificulta bastante o raciocínio sempre nos dando contra respostas a nossas tentativas diagnósticas e fazendo com que exploremos tuuudo todas as hipóteses, todos os exames, todos os diagnósticos diferenciais.
Quem não participa ele força a interagir. Como temos com ele as praticas são somente uma por semana e ele não liga para faltas, ele quer somente alunos interessados e comprometidos, é realmente muito enriquecedor para o aprendizado ter o pratico. Os professores médicos tem bastante liberdade para ensinar os alunos como bem entendem, alguns dão 2 práticos por semana, ou tem de outra forma suas aulas, eu passei pra vocês a visão minha mas é bem heterogênea essa parte de praticas de med interna.
ps. Não foi nem 1 nem 2 amigos que cursam a barceló que acompanham o blog que vieram me criticar falando que o Dr. Somerville é um professor ruim, na mesma moeda os amigos que cursam a unlar com quem falei até então o elogiam, fica o meu ponto de vista pessoal de que sim ele é bom professor e sabe muito.
Cirurgia
Essa matéria possui teóricos quinzenais e os alunos não são obrigados a ir. Se olharem a grade horaria, vão ver que os teóricos em geral começam tarde, essa matéria é a unica que tem aulas as 8h da manhã, então isso colabora muito para os alunos não irem, veja bem agora é pleno inverno e levantar cedão, sair da cama e ir para o hospital com temperaturas baixíssimas isso quando não faz temperatura negativa... Tem que ter muita força de vontade viu... Alem de que o aluno tem que ir com um alto nível de atenção e vontade de aprender, pois os teóricos são duplos! (Eu sempre levo chimarrão pra dar uma estimulada e aquecer.) Começam as 8h e pouco e terminam la pras 13h. São dois professores, o primeiro é com o Dr. Mercado Luna médico famoso daqui de La Rioja e posteriormente com o Dr. Pizarro o titular da catedra que viaja pra cá e também é titular da catedra de cirurgia da universidade nacional de Córdoba. Eu sou apaixonado pela aula dos dois, tudo que critico de interna é totalmente diferente com cirurgia, as aulas do Dr Mercado Luna são recheadas de informação e ele ao invés de ler realmente explica a matéria, sabe passar o conteúdo. E depois com Dr. Pizarro ele já é bem velho, tem muita experiencia e sempre enfoca muito na anatomia sempre trazendo historias de suas experiencias que enriquecem ainda mais a aula.
Quanto as praticas tenho no principal hospital público da cidade com o Dr. Gaspanello, ele sempre chega atrasado e já ocorreu mais de uma vez dele não vir dar o pratico porque é a hora do cochilo do seu plantão ou está em uma cirurgia. Quando é assim ele manda o recado por meio de algum cirurgião residente subordinado dele pra fazermos as histórias clinicas dos pacientes do setor de cirurgia. Isso ocorreu bastante nos primeiros práticos, coisa que nós alunos nos unimos e reclamamos e então não ocorreu mais até então. Alguns práticos o Dr vem beem sonolento em outros quando ele sai da reunião com os residentes ele vem cuspindo fogo porque em geral houve algum problema e como são seus subordinados ele tem que resolver, mas se nota que ele ama oque faz porque quando ele começa a nos fazer perguntas e vamos respondendo satisfatoriamente, eu sinto que ele se relaxa com nós e se diverte. Alem dele saber muita coisa a respeito da medicina cirúrgica. A Comissão tem uma qualidade curiosa é bem heterogênea, tem eu do Brasil que sou beem ativo e sempre me atrevo a responder as perguntas, o professor me chama de "San Paulo" porque sou paulista. Além de mim há alunos do Chile, o Santi do Equador, e a Leyanet da Venezuela. Fora os argentinos que tem do norte, da pampa, do centro e da patagônia. Sempre vamos discutindo diferentes pontos de vista sobre tudo e eu gosto bastante. O professor gosta de ensinar fazendo perguntas coisa que exige que nos presentemos com o tema estudado. Em geral quando um aluno responde ele vai a outro e pergunta oque ele acha, e vai colocando as opiniões dos alunos em oposição, como eu sou sem vergonha sempre respondo e em geral sempre quebro a cara. O professor explora o fato da comissão ter muita diversidade de gente de diferentes lados e aplica isso com perguntas de epidemiologia, por exemplo no Brasil e no Chile é frequente o megacólon chagásico enquanto que na Argentina é mais frequente a Cardiomegalia. Ou outro exemplo, ele gosta de tocar em temas polêmicos, oque fazer em cirurgias com testemunhas de jeová, que não permitem a transfusão de sangue? Se é programada tem que extrair o sangue da pessoa previamente pois ela pode receber transfusão de seu próprio sangue que é parte de sua alma (segundo sua crença e as palavras do profe). Que a maioria dos ginecologistas mandam as mulheres com suspeita de abdômen agudo/apendicite para os cirurgiões resolverem. Que se temos uma suspeita de apendicite que leve a uma cirurgia exploratória, e vemos que não está inflamado, tiramos o apêndice ou deixamos ele intacto? Na argentina se tira, pois se a pessoa tem a cicatriz por convenção os médicos entendem que ela realizou uma apendicectomia. (alguém que manje de cirurgia pode me dizer nos comentários se vale o mesmo essa convenção no Brasil?). Casos de apendicectomia preventiva... (pessoas que viajam ao espaço ou antártica). Como atuar com pacientes que se negam a fazer exames, que se negam a fazer cirurgias, que técnica realizar em certos tipos de cistos e como avaliar sua evolução por meio de exames de imagem, que antibióticos atuam melhor em diferentes casos, como estão fixadas as vísceras e por onde melhor intervir numa cirurgia e etc.
Pediatria
Com os teóricos todas as terças é uma matéria tranquila, existe uma relação de amor e ódio com os alunos onde eu não sei onde me enquadrar, porque em pediatria tudo é diferente, sabe?
De um lado você tem a parte desagradável, saber de memória muitas coisas, o corpo nas primeiras fases da vida está baixo constante mudança então temos que saber de cor e salteado absolutamente tudo de especial que levam esses seres miudinhos, a primeira parte do curso vemos uma criança sã pra depois ver as enfermidades, por exemplo em um bebê, o perímetro cefálico, saber todos os valores em diferentes meses, como abordar e realizar uma semiografia correta nas fases de desenvolvimento normal por semanas e meses... Ou seja o motor fino, grosso, linguagem, sociabilidade, reflexos, o IMC que é diferente, cálculos para desnutrição, os famosos percentiles, são muitos valores, muitas formulas matemáticas de conversão a saber, muitos detalhes, com tantos anos de estudo nos acostumamos mal ao corpo de um ser humano adulto e fazer as conversões, saber o velho tema das vacinas, que são trocentas, como estão compostas, se é vírus atenuado, bactéria, compostos artificiais, toxinas modificadas, doses, vias, meses, idades, é de deixar qualquer estudante maluquinho.
Some se a isso os teóricos, são largos e a professora titular (Dra. Frack) sabe muito mas quando ela fala ao microfone em geral ela grita e a voz fina dela me da dor de cabeça, junte isso a valores a saber sem fim, lições de moral longas, e tens a receita do ódio universitário contra essa matéria tão linda.
Na contramão disso tudo nas praticas você tem o contato com crianças e em geral com suas mães preocupadíssimas, então sempre realizamos a semiografia completa, como é época invernal as guardias (plantões) explodem com crianças com problemas respiratórios, não falta criança pra praticar! E eu me sinto realizado nas praticas. A professora sempre com muita paciência explica o passo a passo de tudo.
Obst
É de longe a catedra mais organizada do quinto ano de medicina. Obstetrícia é uma matéria anual porem os professores dividem ela em duas, ou seja os alunos que tem sobrenome inicial de letras A a M realizam a cursada no primeiro semestre e os que tem de N até Z realizam no segundo semestre, os professores preferem assim pra diminuir o numero de alunos que é alto por turma (devemos ser por volta de 150 alunos em obst) e garantir que todos realizem todas as atividades plenamente.
O titular da catedra também é o mesmo da Universidade Nacional de Córdoba. Dr. Bolatti e vem somente algumas vezes no semestre dar aulas e quase sempre pra tomar os exames finais. Já é um especialista bem vivido e com muitas experiencias, parece um gravadorzinho falando as aulas, automaticamente tudo, sabe muito. Além dele tem o Dr. Tissera que não é o titular mas é quem realmente comanda as coisas aqui em La Rioja e é o diretor de Obstetrícia do Hospital da Madre y del Niño onde realizamos grande parte das praticas, é o principal hospital da província absorvendo a maioria esmagadora dos partos complicados e abrangendo área de influencia em províncias vizinhas.
Os teóricos com o Dr. Tissera são os mais tensos por sua personalidade forte, todos os teóricos seguem as aulas que Dr. Bolatti editou com base na bibliografia do Livro de obstetrícia Uruguaio Schwartz. Todos os professores que dão aula seja Dr.Serra, (o mesmo que me tomou final de ginecologia) Dr. Monges. Dra. Farias dão os teóricos editados previamente pelo Dr. Bolatti que estão nesse site. O único que escapa a regra e o Dr. Tissera suas aulas igualmente não deixam nada a desejar em conteúdo, ele só não admite que os alunos durmam, se ele nota que o aluno esta meio idiota ele convida a se retirar e lavar o rosto. Demanda sempre muita atenção e vai circulando pelo anfiteatro e falando falando, quando de repente ele se vira a queima roupa e faz uma pergunta sobre o tema que está a explicar, quase ninguém escapa. A mim em uma aula ele me perguntou quais são as medidas do útero, coisa que aprendemos lá no primeiro ano, outra aula ele me fez pensar rápido fazendo eu fazer cálculos mentais de uma mulher com 15 semanas de gestação, quantos meses ela tem? E qual é a data provável de parto segundo data de ultima menstruação x? Porque a gestação se calcula na medicina por semanas, ciclos lunares, diferente dos meses solares que nos manejamos no dia a dia. E sempre ele agarra alguém avulso sentado no anfiteatro não importa se esta sentado atrás, oque causa um certo terror, nem na aula podemos relaxar direito com medo a passar vergonha publicamente. nas quartas feiras que não tem aula de cirurgia tem aula de obstetrícia, portanto temos em uma semana dois teóricos, em outra 3 e assim vai rotando.
Quanto as praticas eu tive com a Dra Farias em um centro básico de saúde, postinho, acompanhamos as grávidas, sua história, antecedentes, exames de laboratório, medida de altura uterina, acompanhamos os batidos fetais seja com aparatos modernos ou a moda antiga com estetoscópio de Pinard, acompanhamos as Ecografias, como somos poucos alunos botamos realmente a mão na massa e é sem dúvidas sensacional. Como é posto não somente vemos grávidas e vemos também pacientes ginecológicas então acaba mesclando com ginecologia, fazendo papa nicolau, tive oportunidade de ver doenças sexualmente transmissíveis como hiv, sífilis e etc. Algumas pacientes se mostram envergonhadas e negam consulta então alguns alunos tem que sair, outras permitem então acompanhados da Dra. vemos tudo. Não tenho nem oque falar da Dra. Farias a não ser rasgar elogios a tremenda profissional que ela é, minha professora favorita e exemplo do profissional que eu quero ser, seja no tratamento humano com os pacientes sempre solicita e explicando tudo não deixa passar um detalhe sequer como médica, além de excelente docente. Mais orgulho me dá pelo fato que é formada na UNLaR.
Fora as praticas temos as Guardias, ou plantões no hospital, são somente três onde passamos por um período largo de horas no hospital dentro do centro obstétrico trajados acompanhando as mães em trabalho de parto, seja normal seja cesárea onde acompanhamos a cirurgia in loco e os médicos vão nos explicando.
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| Um dia de plantão de Obst com os compas |
Depois de ler tudo se tem a impressão que é corrido, e de fato é, tem que estudar bastante, mas nem se compara com a loucura que é o quarto ano de medicina. No quinto só o fato de não ter aulas cedo demais já ajuda muito no fator descanso e sono, a organização das catedras e maior compreensão dos professores com alunos e entre eles mesmos (principalmente com o choque de horários) como um todo ajuda também, no quarto as catedras são um pouco caóticas inventando aulas surpresa do nada sem um cronograma pré estabelecido e obedecido a risca. Sem dúvidas o quinto ano, se o aluno faz sua parte e estuda com atenção, ele cursa, aprende muito e creio que aprova sem maiores transtornos.
Vamos que vamos!


































